Geralmente quando entro aqui para escrever, faço relatos sobre um mundo imaginário cheio de dúvidas, medos e paixões inexistentes e até mesmo inexplicáveis.
Falo sobre crises existenciais, sobre pesadelos e traumas e até mesmo espero que em um ato desesperado essas palavras cheguem até alguém para me socorrer, me abraçar e dizer que tudo vai ficar bem.
Mas isso não existe mais.
Inclusive hoje estou me perguntando por que dramatizei tanto os meus problemas.
Eles sempre existiram... desde que nasci.
A mesma mãe está na cadeira.
A mesma irmã paranóica cria problemas.
A mesma irmã esquizofrênica sobe e desce em suas crises.
As mesmas lutas para conquistar espaço no mercado de trabalho...
Mas por que eu me transformei em algo tão frágil da noite pro dia?
Desde pequena eu estava conformada com a situação à minha volta, e sempre tive muito orgulho de ser forte e não deixar que essas situações me abalassem.
Muitas pessoas me perguntavam o por que de eu resistir tanto e ter tanta confiança na vida e eu tinha orgulho de responder que pra mim tudo isso era muito normal.
Eu não escrevia cartas de amor pra qualquer um.
Eu não me apaixonava pelo primeiro que chegasse perto.
Eu não era tão carente assim a ponto de esperar pelo amor verdadeiro no primeiro olhar que se direcionasse a mim.
Eu nem esperava a aprovação alheia... tudo que eu fazia eu fazia por mim.
Tá certo que hoje eu entendo que, além de voltar a ser quem sou, adquiri sabedoria e empatia... eu não costumava me colocar no lugar do próximo com tanta frequência.
Parece que eu acordei mesmo desse pesadelo.
Se as coisas não estão indo bem... eu voltei a não me abalar tanto.
Se as coisas estão bem... eu sigo o fluxo e aproveito.
Eu estou sentindo aquele gás novamente... eu me sinto viva de novo.
E o pior de tudo é que nem sei se sinto vergonha dessa fase transtornada que apresentei à muitos pois... não era eu.
Eu queria mesmo poder explicar para as pessoas que não me conheceram antes desse surto que aquilo que elas acham que era a Mônica na realidade era uma espécie de fantoche conduzido por algo desconhecido que eu nunca vou saber explicar.
Esses 7 anos ... sei lá, não era eu.
Eu até escrevia... mas eu precisava mesmo estar muito apaixonada pra isso...
Confesso que eu gostava da sensação de escrever como se eu fosse uma poetisa, mas hoje... acordada... não acho que eu seja realmente capaz disso.
Se eu tentar sentir algo e escrever a respeito... não consigo.
Se eu tentar sentir aquelas coisas enquanto escrevia... além de Não conseguir, não entendo.
É como se fosse mesmo um sonho... ou pesadelo.
Eu nem lembro da dor que eu sentia diariamente... é muito raro eu me sentir desanimada ou depressiva.
Mesmo que por ventura eu venha a ter uma desconfiança... voltei a guardar meus pensamentos.
Em outras épocas eu escreveria e logo enviaria para o destinatário na esperança de que esse texto resultasse em ajuda.
Hoje... sou eu.
Uma mulher não muito comum mas também não muito incomum, trabalhando e batalhando pelos seus objetivos, cumprindo metas e horarios como qualquer pessoa... como eu já tinha feito antes.
Uma mulher reservada que na realidade nunca gostou de ter muitos amigos mesmo que tivesse milhares de conhecidos.
Uma mulher que sempre se preocupou com trabalho e sempre se dedicou a fazer o melhor por si própria sem esperar aprovação... apenas por olhar e sentir o brilho do trabalho bem feito mesmo que pudesse ser aprimorado.
Uma mulher que nem sonhava em ser cantora, atriz ou ter uma vida extravagante e estraordinaria... Uma mulher que na realidade nem se importa tanto em ter várias empresas ou ser artista... Uma mulher simples... longe daquelas confusões sobre que carreira seguir....
Uma mulher sem obcessoes por brilho, status ou homens.
Não vou mentir... queria ter a chance de conhecer de verdade as pessoas que conheci nessa fase amaldicoada... mas dessa vez, sendo eu mesma.
Queria ter a oportunidade de saber se eu pensaria da mesma forma que pensei, agiria ou me envolveria da mesma maneira.
Eu nem pensava tanto... apenas vivia um dia de cada vez...
Eu nem me importava com muita coisa que passei a me importar... e hoje nem sei por que me importei.
Se eu estivesse bem... a minha leitura não falharia como falhou.
Me lembro muito bem que uma das coisas que eu me orgulhava era que por mais que alguém tentasse me enganar, eu apenas consentia com um olhar doce e me afastava.
Sem berros, textos ou explosões.
Eu nunca tentei dar lição de moral nem mudar ninguem.
Eu apenas me afastava.
Essa ideia missionária de salvar almas nunca me subiu a cabeça.
Apesar de ser necessário ser bom com o próximo... eu fazia isso de maneira natural... não precisava de fé ou do julgamento de Deus.
Hoje sim, sou devota a Deus e entendo a importância da proteção dele.
Mas eu gostava de ajudar só quando eu gostava e mais nada...
Eu queria poder compartilhar isso com alguém...
Tá estranho me sentir viva.
Tá estranho reaver minha consciência.
Tá maravilhoso sentir o sabor da saúde mental novamente...
Mas o mais estranho de tudo é reconhecer certos aspectos da minha personalidade que na realidade sempre existiram, mas por alguma razão que desconheço foram abafados nesse período.
Não tenho vergonha desses traumas, comportamentos e transtornos... o Real problema ou bênção se assim posso dizer é que... eu não me lembro desses sentimentos ruins.
Não lembro o que sacudia minha cabeça.
Não lembro a razão pela qual eu sentia tanto medo.
Não lembro a dor das minhas lagrimas.
Graças a Deus... eu tenho a nítida impressão que tudo que eu passei realmente foi um sonho... algo imaginado que enquanto eu dormia me afetava, mas ao abrir os olhos... sumiu.
Nem os pesadelos me visitam...
Sou grata a Deus por ter minha vida de volta e muito melhor do que já foi...
Mas seria ainda mais grata por ter a oportunidade de ter talvez uma explicação sobre o que aconteceu.
Talvez só no dia da minha morte...
Mas passou... e nem me lembro mais do que aconteceu.